Carta aberta à turma de Fundamentos da Ecologia 2009/2

A disciplina de Fundamentos da Ecologia apresentou-me a necessidade de pensar a ecologia numa perspectiva anticapitalista, apesar da Thereza e do Josimar não pensarem desta forma. Pensar a ecologia de forma anticapitalista não quer dizer que deva ser comunista, socialista, anarquista, etc. demonstra um pensamento racional, pois não há dúvidas que o capitalismo é irracional. Um sistema social, econômico e político que coloca mais da metade da população do mundo em condições subumanas não pode (ou não poderia) ser defendido dentro da universidade que se mantém como o receptáculo da razão/ciência que teoricamente tem (ou tinha) o objetivo de libertar o homem da dor e do sofrimento como a fome, doença e até mesmo a morte (vide a história do Iluminismo).

Não acredito que a universidade será o espaço do consenso das ideias, mas é preciso saber diferenciar até onde o privilégio está sendo colocado invés do direito. Surpreendeu-me colocações do tipo: “eu não gosto quando vocês criticam o capitalismo” ou discurso elaborado contra o socialismo. O Brasil foi estruturado territorialmente através das relações capitalistas e foram estas relações que construíram a desigualdade sócio-espacial que vemos. Criticar o socialismo soviético é válido, porém critica-se o socialismo e defende o capitalismo? Os escravagistas acreditavam que haviam chegado à sociedade ideal, o que pensamos desta sociedade hoje?

A crise, social, econômica, ecológica e moral evidentemente está associado ao modo de produção capitalista que intensificou seu desenvolvimento a partir do século XIX. Infelizmente, ainda existem visões românticas do capitalismo que acreditam no desenvolvimento sustentável (pode ser sustentável para uma classe, mas não para todos e por que não para todos?). Carlos Walter Porto-Gonçalves, professor de Geografia da UFF, coloca que desenvolvimento é rigorosamente, sinônimo de dominação da natureza. Por isto, o desafio ambiental tende a buscar alternativas ao e não de desenvolvimento.

A disciplina Fundamentos da Ecologia foi importante para percebermos como toda a universidade tem posições políticas e que a ciência (física ou humana) como é feita por homens e mulheres também será um ato político.

Fraternamente,
Gustavo Ferreira de Azevedo.

2 comentários:

Coração suburbano disse...

Isso se chama "pensamento binário", meu caro Gugu. Resume-se na seguinte linha de raciocínio: o mundo seria supostamente dividido em pólos opostos (capitalismo/socialismo, teísmo/ateísmo, heterossexuais/homossexuais, civilização/barbárie, etc), então se você nega um pólo estaria, automaticamente, afirmando o outro. Por conta disso, se você nega o capitalismo, as pessoas automaticamente rotulam você de comunista. Como você, também acho o capitalismo irracional e sem sentido. Isso mesmo: SEM SENTIDO. Agora, isso não faz de mim um comunista de carteirinha, até porque o que as pessoas costumam chamar de "comunismo" são aquelas aberrações do século XX que, na verdade, nada mais fizeram do que trocar/substituir o explorador, a classe dominante, porque os explorados continuaram sendo os mesmos, não é verdade? E, vamos combinar, esse negócio de ecologia, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, etc, não tem nada essencialmente de anticapitalista. Pelo contrário: isso virou um dos mercados mais lucrativos e rentáveis das últimas décadas. Puro "ecobusiness". Uma coisa que o capitalismo sempre soube fazer bem é administrar os ônus de sua reprodução "ad eternum". Para administrar a pobreza e a exclusão, chamem as ONGs! Para administrar os problemas ambientais, tome "gestão ambiental"! Numa sociedade capitalista (e socialista do tipo soviético também, ora pois!) a solução é administrar os problemas e nunca erradicá-los. Abração, Gugu! (Angelo)

Vanessa Moss disse...

Belo texto! com relação a disciplina fundamentos de ecologia, como aluna do curso de ciências biológicas, posso contar um pouquinho da nossa realidade. Não me espanta ver um comentário desse tipo por alguns de nossos professores, ainda que discorde completamente dele. A grande maioria de professores e alunos de Biologia da UERJ defendem a visão "apolítica", sem ao menos saber o que ela de fato significa... e não sobram críticas a qualquer pessoa que tente ao menos falar sobre o assunto, com qualquer visão que seja. Pode ser daí que nasce uma visão completamente equivocada dos fatos... é lamentável e revoltante saber que uma colega de profissão, que convive com os problemas gerados por esse sistema, ainda o defende e tenta impor a seus alunos sua aceitação.
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