Mito da Caverna e a Evolução das Formas de Representação

Este texto tem o objetivo de relacionar o Mito da Caverna do filósofo Platão com as formas de representação que ocorreram na história da humanidade. O texto não é uma enciclopédia que informará detalhadamente, mas tem a sutileza de indicar um ensaio sobre a humanidade e suas formas de representação.

Mito da Caverna

O mito da Caverna foi pensado pelo filósofo Platão que, resumidamente, entendia que os moradores da caverna visualizavam as sombras do mundo. Platão queria nos mostrar é que o mundo que temos acesso não passa de uma péssima representação do mundo verdadeiro e que para conseguirmos romper com o espetáculo das sombras seria necessário virarmos de costas, saindo da caverna. Este simples gesto de dar as costas para o espetáculo das sombras é um grande gesto para os que continuam acreditando que o espetáculo é a verdade.

No vídeo abaixo Saramago explica e faz uma relação do Mito da Caverna com o mundo hoje.


As Formas de Representação e sua Evolução

A pintura

A representação está presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos e a forma que identificamos como uma das primeiras representações é a pintura, neste caso a rupestre. Contudo, não impede de outras formas anteriores terem existidos com o caráter de representar o mundo real vivido naquele tempo. 

Pintura rupestre encontrada no Brasil

Ainda na forma da pintura, houve enormes evoluções de representar o mundo real na tentativa de aproximá-lo o máximo possível da apresentação. Abaixo há uma obra referencial de Michelangelo com o título de Invocação de São Mateus. Nesta obra já é possível de visualizar a preocupação com a profundidade, luminosidade e quantidade. 

Michelangelo Merisi. Invocação de São Mateus

Apesar da pintura estar desde os mais remotos tempos ela não desapareceu e nem deixo de se preocupar em representar o mundo real. É evidente que novas estéticas foram surgindo e com outras preocupações. Abaixo o vídeo do artista Stephen Wiltshire que mostra o processo para representar a cidade de Nova Iorque.

A fotografia

Outra forma de representar o mundo real é a fotografia. Esta forma também passou por um grande processo evolutivo até os dias de hoje. De acordo com os registro, Aristóteles foi o primeiro a pensar como poderia representar o mundo real utilizando a iluminação solar. Para isto, Aristóteles utilizou a técnica que posteriormente veio se chamar de câmara escura e tinha o objetivo de ver o eclipse.  

A primeira fotografia foi registrada em 1826 por um francês. Para os padrões atuais há uma grande distância para o que entendemos como qualidade de imagem e representação do mundo real. Abaixo visualizamos o primeiro registro fotográfico feito pela a humanidade.

Joseph Nicéphore Niépce

A partir deste registro começou o desafio de como conseguir produzir em escala a imagem e de melhorar a qualidade deste registro, na direção de melhor representar o mundo real. A história da fotografia se desenvolve muito rápido entendendo que as primeiras tentativas havia sido com Aristóteles em 350 a. C. Nos vídeos abaixo a história da fotografia.

Rápida descrição do processo e propaganda da Ecopix

Documentário sobre a fotografia produzido pela H.C.

Hoje temos acesso as fotografias de alta resolução. A partir desta forma de representação a humanidade começou a poder representar o real de maneira estática. Mas o processo da evolução das formas de representação continuou se desenvolvendo e paralelamente ao desenvolvimento da fotografia veio a forma cinematográfica.

O cinema

O cinema foi mais uma forma de representação que surgiu no final do século XIX. A primeira realização do cinema foi com os irmão Lumière em 1895 e sua maior conquista foi poder apresentar o movimento na representação. Então para a humanidade que a todo momento tinha a referência da representação como um objeto estático, agora a representação tinha o movimento. Os irmãos Lumière deram o ponta pé inicial para o desenvolvimento do movimento na representação. Abaixo um vídeo retratando o processo do surgimento do cinema no contexto político que estava inserido. 



O processo de desenvolvimento do cinema chegou ao ponto de além de ter o movimento perfeito do mundo real registrado, começa a registrar o mundo real com 3 dimensões (espaço tridimensional) que são chamados vídeos em 3D. Esta é a mais nova evolução do registro do mundo real. Assim, mesmo sendo representação consegue apresentar o mundo real em movimento e com 3 dimensões (altura, profundidade e largura). Como um vídeo teste retirado do youtube.







A Caverna e Todo este Processo

Então nos encontramos com poderosíssimas formas de representação da realidade. Os dias vão passando a realidade fica cada vez mais compreensível (?) através de formas como a pintura, a fotografia e o cinema. Ou seja, a representação fica mais próxima da apresentação. Mas o que isso importa? Conseguimos representar o real com uma eficiência técnica enorme, por exemplo, um vídeo em 3D de uma floresta densa seria possível de nos mostrar como é complexa a formação da natureza desde os insetos às árvores seculares. Assim, também funciona com a guerra que recebemos vídeos e fotos em tempo real de guerras espalhadas pelo mundo. E a pergunta volta, mas o que isso importa?

Por que evoluímos nas formas de representação do mundo real? Poderíamos dizer que faz parte de todo o fenômeno humano o processo, mas a representação evoluiu com muita velocidade e com um enorme uso da força de trabalho para esta tarefa. É notório que tiveram vários motivos para esta evolução basta ver o que é a indústria do cinema hoje que fascina bilhões de pessoas pelo o mundo inteiro, gerando bilhões de dólares para uma pequena parcela do mundo inteiro. Mas se formos para reflexões filosóficas?

Por que a humanidade apresentou esta necessidade (?) da representação se tornar ou se aproximar da apresentação? A primeira coisa é, não enxerga a apresentação; a segunda, é mais fácil olhar a representação porque esta apesar de, supostamente, ter se aproximado da apresentação, tem o filtro ideológico do produtor da representação; terceira, um grupo da humanidade ganha com a representação; quarta, adequamo-nos em ver a representação como apresentação.

Para concluir, no mito da caverna a evolução dos homens é quando param de acreditar na representação e começam a observar e compreender a apresentação. Hoje, temos como evolução o avanço das formas de representação e não a compreensão da apresentação. Nas palavras de Saramago "Nós nunca vivemos tanto na caverna do Platão". E aí, conseguimos ver a complexidade da floresta e a desmatamos como nunca, vemos guerras em tempo real e não paramos de produzi-las. Vivemos na caverna.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom camarada. Pensar as representações do mundo como arte e como ideologia, ou seja, como obra e como produto dialeticamente pode ser um assunto para os próximos bate papos!
Abração,
Vinícius

Anônimo disse...

Em contrapartida, podemos ver as sombras de todas as cavernas, nao soh a nossa, representadas por todas as formas de representacao descritas por voce.
Podemos mesmos estar fora de nossa caverna, reconhecendo nosso mundo, e sendo apresentado a outros, os quais estao distantes de nós, seja pela distancia ou algum valor.

Abraços