TSC: o crítico do povo

O músico Tico Santa Cruz (TSC), crítico feroz da passividade do povo, escreveu no domingo 25 de Abril demonstrando sua indignação com alguns fatos acontecidos.

Neste artigo ele diz “Do que o brasileiro tem medo? Será ainda resquício dos militares ditadores que desapareciam com quem ousava questioná-los? Não creio. Poucos nesse país podem dizer que enfrentaram a ditadura. A grande parte, como sempre, se comportou como gado”. Não sei qual a bibliografia que ele utiliza para fazer reflexões tão ridículas como estas, mas como um pequeno burguês até entendo essa revolta pelo fato de não compreender toda a conspiração do capital para tentar manter a sociedade submissa. Talvez não compreenda que a educação pública (colégios municipais e estaduais, exceto os federais) que remunera mal seus professores, ligada a má alimentação dos estudantes, péssima infra-estrutura, habitat¹ residencial dos alunos que comumente não conseguem dar prosseguimento aos estudos (porventura com um muro cercando as favelas melhore o habitat de alguns estudantes)².

Todos estes fatores e mais colaboram para uma deficiente educação que dificulta os questionamentos dos alunos a respeito dos valores da sociedade que está inserido. Por exemplo, dificilmente ele irá questionar a necessidade de ter uma casa (leia-se, mansão) que a todo momento a sociedade o coloca como objetivo de tê-la³.

Outro fator importante para a “submissão do povo” é a mídia corporativa que atua como um braço: acolhedor, nas poucas horas livre do trabalhador; direito, da ditadura capitalista. O TSC não irá criticar a mídia já que está, volta e meia, na Tv e semanalmente no jornal.

Num determinado momento do artigo o TSC pergunta-se e responde como se soubesse a voz do povo (característico de quem está na mídia coorporativa). A menção a seguir diz respeito ao Congresso “É ridículo! E nós estávamos onde para não cobrar uma punição severa? Estávamos na fila do ingresso do Fla x Flu, porque pra isso temos tempo e disposição”. Quando o TSC sair das viagens musicais e freqüentar ambientes de lutas sociais ele não fará afirmações irônicas como estas.

Um dia... vai ver que há ocupações em imóveis do Estado que famílias utilizam como residência e reivindicação de um direito constitucional, pois após exaustivas horas de trabalho todos tem o direto de dormir sossegado. Vai ver que milhares de famílias rurais estão em acampamentos debaixo de lonas pretas aguardando o licenciamento do Estado. Vai ver que há milhares de voluntários se esforçando para que jovens entrem para uma universidade pública ou com bolsas para a particular já que estes não podem pagar. Depois disto ele pensará antes de usar o verbo no plural "estávamos" e generalizar o povo com a parcela que ele conhece.

Para finalizar diz: “Na plataforma, o mesmo comportamento passivo. Dez homens socando, chutando e chicoteando o povo para dentro de vagões lotados e ninguém reage?”. Provavelmente nunca andou de trem no Brasil e não sabe como o setor privado lida com a população mais pobre. Outra coisa, no fato relatado havia a presença do Estado (um policial militar) que fornecia todo o subsídio para o setor privado agir.

Enfim, mais uma demonstração de um pequeno burgues da difícil crítica a mídia (ainda mais quando ela é o seu patrão) e questionar um sistema que te privilegia. É muito mais fácil direcionar a revolta para o povo, culpando-o de todas as mazelas que estão na sociedade.

[¹] O Lê Monde Diplomatique Brasil ano2/ nº21 / 2009 apresentou uma pesquisa que confirma a dificuldade de alunos que estão em locais periféricos e com isto apresentam baixo índice de rendimento escolar devido ao seu habitat.

[²] O TSC criticou o literato José Saramago pelo fato deste ir contra a colocação de paredes para circundar as favelas. TSC disse que Saramago não conhecia a realidade do Rio de Janeiro para opinar. Porém precisa saber a realidade que se encontra o Rio para dizer que um projeto fascista é ruim para a população? “O muro nas favelas é a renúncia das classes dominantes em educar uma parte da população que se reproduz à margem da sociedade” Chico de Oliveira.

[³] Sua casa vai bem, TSC?

Nenhum comentário: