Servir a quem, eis a questão?


Servir a Deus ou ao dinheiro é um dilema muito difícil para os cristãos de nossa sociedade contemporânea, onde o ser humano é substituído pelo ter humano. Isto não é novidade, mas o pior que como já faz bastante tempo as pessoas começaram a naturalizar e acreditar que o ter é mais importante que o ser. Como cristão tenho que combater a visão mercantilizada das relações humanas, mas a batalha é difícil e muitos cristãos e não cristãos (diga-se de passagem) tentaram e tentam combater este equívoco da sociedade.
Para combater é preciso descobrir onde está o causador dos problemas e é justamente aí que mora o problema porque não é um causador, mas são os causadores. Poderia enumerar diversos causadores, contudo vou me deter a dois: modo de produção capitalista e cristianismo equivocado.
O primeiro, modo de produção, é antigo e desde sua construção no final da Idade Média mostrou que paz e capitalismo eram inviáveis. Expansão marítima agregada à morte de povos originários de vários continentes, exploração do homem pelo homem, fome, peste, guerra e desigualdade social. Esta é a história do capitalismo contada pela perspectiva da vida humana.
O segundo, cristianismo equivocado, infelizmente o grupo que poderia questionar e revolucionar o modo de produção faz o contrário, o ajuda. Primeiro foi a Igreja Católica mantendo ideologicamente a estrutura de classes do período feudal e que depois teve a “satanidade” de catequizar os povos originários da América, implantar a Inquisição e agora se dedica a manter posições conservadoras. O outro grupo do cristianismo equivocado são os protestantes que tiveram a “satanidade” de apoiar o trabalho no modo de produção capitalista (calvinistas) e criticar os camponeses revoltosos devido as péssimas condições de vida que tinham no século XVI(Lutero), por exemplo.

É evidente que existem exceções dentro de cada grupo do cristianismo equivocado. Mas infelizmente o que mais vemos nos dias de hoje ou é uma Igreja Católica que não fala da pobreza porque interessa a estrutura que está, ou uma Igreja Protestante que ostenta riqueza prometendo que um dia este fiel irá alcançá-la. Qual das duas é a Igreja de Deus? Nenhuma! A primeira já mostrou que na sua juventude sabia atuar no mercado de negócios: vendendo indulgências, monumentos sagrados, terrenos no céu e outras cositas. Agora está cansada e descansa ou “comendo” criancinha ou fazendo comentários descabidos.
A protestante não, esta está em pleno vigor com novas interpretações e ultra-novas interpretações. Além de atuar como comentarista dos setores conservadores também atua no mercado de negócios: ações na bolsa de valores (IURD), templos belíssimos, dízimo e outras cositas. Ah, atua no ramo ideológico, pois a disputa de quem vai mais arrumado, tem o carro mais bonito e caro, a casa mais chique, é famosa dentro das igrejas e com isso ficam mais perto do céu. No fundo o que vai salvá-lo é a crença em Deus, sem intervenção dos santos e independente da obra na terra.
Servir a Deus ou ao dinheiro, eis a questão. Dilema difícil para as duas aí de cima, pois uma vive na riqueza e a outra só pensa em riqueza. E Deus com isso tudo? Lamenta lógico. Imagine: você envia um Filho pobre para salvar o mundo e ele, volta e meia, faz duras críticas ao dinheiro e à mercantilização da vida e do sagrado. Para isto, seu Filho deixa um legado na terra e uns escritos para ler, julgar e agir... O que acontece? Os supostos seguidores entendem do jeito que melhor vai privilegiá-los.
Mais de um bilhão de pessoas no mundo passam fome agora e as igrejas não têm nada para dizer a não ser lamentações ou orações. Oração até serve, mas não enche barriga, talvez até sono encha mais. Milhões de crianças dormem na rua (menos em Cuba) e o que as igrejas têm a dizer, nada, ou melhor, o que elas fazem? Nada.
Às vezes eu tento livrar a culpa dos supostos seguidores de Cristo, colocando toda a culpa no modo de produção capitalista entendendo que ele é o responsável pela a individualização e mercantilização das relações sociais. Mas concomitante a esta tentativa me vem o questionamento: eles, não seriam responsáveis pela superação deste problema que é o capitalismo já que lêem a Bíblia e que tem centenas de exemplos de que o dinheiro e o cristianismo, na mesma proporção, não são compatíveis? Outra pergunta, por que os cristãos aceitam a propriedade privada como se fosse um termo bíblico?
Para responder a estas perguntas é fácil, basta refletir sobre a Palavra: “Vocês não podem servir a Deus e às riquezas”. Lá no Mateus número 6, versículo 24.

Um comentário:

Bethânia disse...

Olá Gustavo!
tô curtindo passear pelo seu blog, mto bom! =D