O texto abaixo é uma análise do neoliberalismo na perspectiva marxista do David Harvey. O autor considera que o neoliberalismo teve a função de remanejar o capital para a mão dos donos de meios de produção (burguesia) que a partir da segunda guerra mundial viram seu capital "sumir". Resumidamente, as medidas neoliberais serviram para que os capitalistas recuperassem seus capitais, com isto acentuando a desigualdade social e a dependência dos países subdesenvolvidos.
O texto na íntegra está no excelente site Resistir.Info:
http://www.resistir.info/varios/neoliberalismo_ago04_port.html
"A ortodoxia neoliberal, pressionada tanto pela Inglaterra como pelos EUA, introduziu-se nas instituições financeiras internacionais depois de 1980. O Fundo Monetário Internacional tornou-se o principal agente na promoção das políticas de “ajustamento estrutural” sempre que tinha de lidar com uma crise de crédito. Como resultado, países como o México, Argentina, Brasil e África do Sul foram arrastados para o campo neoliberal. O preço de entrar no sistema económico global para muitos países da área soviética foi a privatização e o assumir de uma postura neoliberal. A competição global arrastou muitos outros países, até a China e a Índia, para algo aproximado a uma estrutura de Estado neoliberal. Ainda há alguns Estados, como na Europa e Escandinávia, que se apegam à social-democracia e outros no Leste Asiático conseguiram combinar o neoliberalismo externamente com a preocupação com a igualdade em casa. Mas algumas variantes de Estado neoliberal agora predominam em todo o mundo. Isto aconteceu em parte devido a uma crise do capitalismo nos anos 70. As taxas de lucro estavam baixas, a inflação e o desemprego estavam a crescer por todo o lado quando o consenso económico (chamado keynesiano) dos anos 60 ditou que eles deviam contrabalançar-se. Os sistemas financeiros estavam um caos, o mercado de valores em declínio e havia uma crise fiscal nas despesas do Estado (sendo emblemática a falência da cidade de Nova York em 1975). A forma de Estado “social-democrata” que surgiu depois de 1945 não conseguia superá-la. Alguma coisa nova tinha de ser inventada. A resposta que venceu foi o neoliberalismo. Mas foi bem sucedido? Em termos de estimulação do crescimento foi um triste fracasso. As taxas de crescimento global nos anos 50 e 60 permaneceram à volta de 3,5 por cento e nos perturbados anos 70 caíram para cerca de 2,4 por cento. Mas nos anos 80 baixaram para 1,4 porcento e nos anos 90 caíram ainda mais chegando a 1,2 por cento e desde 2000 têm-se mantido pouco acima dos 1 por cento. Então porque estamos nós tão persuadidos dos benefícios do neoliberalismo?
Existem duas respostas principais. Primeiramente, o neoliberalismo introduziu uma considerável volatilidade no sistema global, de modo que normalmente há alguns lugares que estão a ir bem enquanto os restantes vão muito mal. Nos anos 80 foi o Japão e Alemanha Ocidental que lideraram o grupo e os EUA ficavam atrás, mas nos anos 90 ambos se atrasaram com o Japão a sofrer de uma década de severa recessão. Nos anos 90 os EUA, Grã-Bretanha e alguns dos “tigres” económicos do Sudoeste Asiático surgiram no topo. Depois o Sudoeste Asiático caiu em 1997 seguido do colapso da “nova economia” nos EUA e agora China e Índia parecem ser os que se destacam na frente da corrida. Num mundo darwiniano, o argumento neoliberal vinga, ficas para trás porque não és competitivo. Apenas sobrevives se te encaixares suficientemente bem. Não há nada sistematicamente errado. A falha está em ti. Não és suficientemente neoliberal.
Em segundo lugar, e mais importante, os grupos com rendimentos mais elevados tornaram-se infinitamente mais ricos sob o neoliberalismo. A desigualdade social aumentou em vez de diminuir. Nos EUA, por exemplo, os 1% do topo da pirâmide de rendimentos detinha 16 por cento da renda nacional antes da Segunda Guerra Mundial, mas durante os anos 50 e 60 essa fatia caiu para 8 por cento e os fracassos dos anos 70 ameaçavam o seu poder ainda mais. Mas em 2000 este grupo voltou a deter 15 por cento da renda nacional e isto pode disparar até 20 por cento num futuro próximo se os cortes nos impostos se mantiverem. Tendências semelhantes, apesar de menos dramáticas, podem ser detectadas noutros países."
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